Último dia de Setembro. Outubro à espreita e, com ele, recomeços e/ou mudanças.
Fruto de vários anos nos bancos de escola e, mais tarde, nas cadeiras um pouco mais cómodas da universidade, para mim, o ano continua teimosamente a começar em Setembro/Outubro e não em Janeiro…
Na minha prática clínica, esta é também a altura em que os pais zelosos procuram o psicólogo em busca de respostas…
Mais tarde, geralmente no final do primeiro período, quando surgem os primeiros resultados, é a vez dos pais preocupados e ansiosos procurando soluções…
Motivo: “Insucesso Escolar”.
Este post é para vocês, pais de crianças em idade pré- escolar e escolar.
A evitar:
– Centrar-se no sucesso escolar;
– Não falar com os professores;
– Reações hiperemotivas. A despedida na chegada à escola deve ser curta. (Só mais um beijinho e voltar atrás para mais um abracinho, espreitar para ver se ficou a chorar não vale!)
– Sobreproteção. Esta gera dependência, medo de correr riscos, medo de confrontação com o fracasso (real ou possível);
– Autoritarismo ou, por outro lado, permissividade;
– Comparações: “Em comparação com a irmã mais velha, o trabalho do André parece do pré-escolar. Nos irmãos gémeos, há pais que optam por coloca-lo em turmas diferentes para contornar a questão da comparação.
– Os “should”: A minha filha é inteligente, por isso deve ter “muito bons”.
Nunca é demais referir que é importante realçar os aspetos positivos da criança. Não raras vezes, no final da consulta com os pais, peço-lhes para me enumerarem três qualidades dos filhos. Surpreendentemente, a maioria revela dificuldade em fazê-lo…
Os pais influenciam as crenças dos filhos sobre as suas competências, levando-os a criar expectativas de desempenho.
Mais do que olhar para o sintoma, há que olhar para a causa e compreender o insucesso.
Li há dias, numa revista semanal que compro quase religiosamente, uma entrevista com um professor universitário que dizia isto: “Nenhuma criança consegue aprender se estiver triste”. Muitas vezes, o que acontece é que a escola é muito boa a detectar insuficiências mas inapta a descobrir e valorizar os talentos.
Pensando na auto-estima da criança, as actividades (vulgo AECS) assumem um papel fundamental. Não apenas poderão valorizá-la, como são um instrumento valioso na criação de rotinas e de organização.
Sobre as rotinas:
Hoje em dia, a palavra “rotina” acarreta um sentido quase depreciativo. Associa-se a algo monótono, aborrecido… Porém, a rotina é organizadora e (também!) a criança precisa dela.
Os horários deverão ser pouco flexíveis, de maneira a que a criança possa, ela própria, antecipar a atividade. Ela aprenderá que “dali a pouco” são horas de ir para a cama.
É fundamental instituir-se horas para jantar, para deitar, para acordar e poder desfrutar de um bom pequeno-almoço. Deparo-mo quase diariamente com crianças que vão para a escola sem pequeno-almoço (fiando-se os pais no lanchinho da manhã na sala de aula) ou que “vêm a comer qualquer coisa” comprada no café da esquina porque, no meio do rebuliço do “levanta-te!; come!; veste isto!; já estamos atrasados!” não houve tempo… E lá chega a criancinha à escola com o bolo de arroz mais ou menos mastigado meio desfeito no guardanapo, ainda com a lágrima no conto do olho que não secou com a birra, trazida pela mão de uma mãe ou de um pai fora de horas e com os nervos em franja!…
Para precaver um cenário equivalente, institua as rotinas. Preparar a mochila e escolher a roupa poderão ser feitos de véspera.
Participe nas atividades da escola: festas temáticas, reuniões, encontros de pais.
Lembre-se que o BRINCAR é um TPC tão importante quanto o problema de Matemática da página 32. A criança deve “brincar a aprender e aprender a brincar”, para que goze de um desenvolvimento harmonioso e, ao final do dia, regresse a casa… “de barriga cheia”