Lembro-me da minha primeira experiência, há largos anos, com dióspiros…
Língua e céu da boca ásperos… “Não gosto disto!”.
Ora, estavam verdes quando os provei, o que ditou, desde então, a minha aversão aos ditos.
Voltei, anos passados, a dar-lhes uma segunda oportunidade, desta vez no estado certo de maturação… Bolas, criei um monstro!…
Desde então, mal se instala o Outono, aguardo com expectativa a chegada dos dióspiros às bancas da fruta!
E já chegaram!!!!
O senhor do familiar comércio local intersecta-me hoje à saída de casa e anuncia orgulhoso a altos decibéis: “Já chegaram, menina! Aí atrasado” (imagino que seja uma expressão alentejana…) perguntou… Hoje já chegaram! Os “dióspires”!
(Já agora: Não se diz “diospiros” ou “diospire”)
Perdoei-lhe o desvio linguístico e desviei eu na sua direção, fixada nas caixas que erguia nas mãos.
A par das castanhas assadas e das romãs, o dióspiro é dos maiores deleites outonais!
É consensual cá em casa!
A divergência surge no “como” os comer… Porque, contrariamente à forma de se pronunciar, não há uma só forma para os comer…
Eu gosto dos moles, pele transparente e de comer à colher… Depois de delicadamente abertos, exibem uma polpa brilhante e gelatinosa que se desfaz na boca…
(Polvilhados com canela ficam um manjar dos deuses! Consta que, na Grécia Antiga, o dióspiro era conhecido como “o fruto dos deuses”!)
O R prefere os de polpa dura e textura firme, de comer à dentada… Há quem os chame “dióspiro-maçã”, exatamente por poderem roer-se como uma maçã… Embora ele os prefira cortados, não aos gomos, não às meias luas, mas às finas rodelas… Diz que gosta do desenho que dos freios e que lhes faz lembrar um sol alaranjado…
Seja de cor alaranjada ou vermelho intenso… Bem-vindo, (doce) Outono!