Das memórias de criança mais vivas que guardo… Contemplar o barbear do meu pai… O verbo é exactamente este. Não participava, limitava-me a assistir, sentada na primeira plateia (entenda-se “bidé”) e deixar-me encantar com todo aquele ritual… Não perdia pitada e, depois de umas quantas performances, até já adivinha os passos… organizados, ritmados, compassados…
Montar o palco; espalhar os adereços; fazer espuma, espalhá-la na cara enquanto se faz caretas; uma mão na torneira que abre e fecha, a outra na gilette que se conduz… Duas ou três batidas no lavatório para sacudir o que a gilette traz com ela…
Agora que elaboro esta memória, corrigo-a: havia manhãs em que o espectáculo era interactivo… Muitas vezes, da plateia, reproduzia com palmas aquelas batidas ritmadas no lavatório.
No final, as palmas eram na cara já lavada com aquele líquido “cheira-bem”. E cheira, ainda hoje!…