Dizia-me ontem uma amiga de longa data: “Não há coisa melhor do que estar apaixonada”.
Não concordo. Estar apaixonado é bom como o caraças, mas é uma canseira. Por alguma razão, este estado tem duração limitada. É um mecanismo de defesa natural. Ninguém aguentaria o coração a sair pela boca a cada encontro fugaz, o não conseguir engolir, as borboletas no estômago, os suspiros profundos para chamar o ar que nos falta, o pensamento acelerado, mas nostálgico… em estado permanente.
A expressão “estar loucamente apaixonado” não é aleatória. Estar loucamente apaixonado tem, efetivamente, comportamentos e sintomas semelhantes à doença mental. A maior parte das paixões toma conta da vontade e toma as rédeas do sentir e do pensar.
Também não percebo a equiparação frequente entre paixão e amor. É comparar alhos com bugalhos. E essa ideia de que “depois da paixão vem o amor”… Às vezes não vem e está tudo bem, foi bom enquanto durou. E o amor não vem, o amor constrói-se. E, muitas vezes, não se constrói a partir da paixão.
No amor não se trata de querer prolongar o gosto do início, simplesmente não queremos que chegue o fim….
No amor não se trata de não saber o que fazer com os olhos ou com as mãos e maldizer as bochechas coradas. No amor, e neste amor, há sempre uma parte do teu corpo que encontra encosto no meu.
No amor não se trata de corações-tambores percutidos com baquetas. São tambores tocados diretamente com as mãos, que exercem o papel de abafadores e têm o poder de alterar o timbre e intensidade do som, e não só.
E “só” isto, no amor, neste amor.
Este amor não é o único amor, mas é e será um amor único. Sempre, sem duração limitada.