No meu caso, era uma boneca, oferecida num natal qualquer. Nos últimos tempos, perdera as pestanas e dois dedos do pé e os fios do cabelo outrora brilhantes tornaram-se numa coletânea de nós cujo desembraçar se tornara inviável. Também já não tinha roupas e usava a mesma combinação (em tempos) branca. Não podia tomar banho e tinha impreterivelmente de vir connosco de férias.
Nunca teve nome, mas não era por isso que alguém naquela casa se atrevia a pôr em causa a excelência da sua existência.
Chama-se objeto transitivo.
Em termos psicológicos, o objeto transitivo (ou transicional) constitui um tipo de mediador entre o mundo interno do bebé ou criança e o mundo externo.
É um objeto concreto (noutros casos, uma parte do corpo, como cabelo, orelhas…) selecionado e preferido pela criança em certas situações com vista a alcançar a tranquilidade, muitas vezes na hora do sono.
Este objeto pode ser um peluche, uma fralda, um cobertor, um brinquedo. Só a criança pode escolhê-lo, ela é o que o adota. A escolha é dela e não adianta os pais tentarem impor um objeto da sua preferência.
Às vezes tem nome próprio, outras vezes não. Às vezes tem vida curta, outras vezes vive anos e anos. Ainda hoje o Charlie Brown não larga o seu cobertor!
Embora nem todas as crianças tenham um objeto de transição (e não há mal nenhum nisso), ele é muito comum na primeira infância e importante para o seu desenvolvimento emocional.
O objeto transitivo diminui a ansiedade do bebé nos momentos da separação da mãe e marca uma fase importante do desenvolvimento psíquico.
O cheiro do objeto transitivo costuma remeter à mãe, daí que as lavagens não sejam bem recebidas pela criança.
Não há idade ideal para largar o objeto de transição. Os pais nunca devem dar, deitar fora ou esconder o objeto sem que a criança saiba e concorde com isso.
Em geral, o objeto transitivo é gradualmente substituído por outros interesses até a criança ter condições de o deixar, cada uma no seu tempo. Tempo emocional e não cronológico.
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