Quando oiço pais dizerem: “Ele/a não dá trabalho nenhum”; “nem se dá por ele/a” fico imediatamente sob alerta laranja. Este filho que não dá trabalho é o filho que os pais não levam à consulta. O outro, aquele que os deixa de cabelos em pé, é desarrumado, irrequieto, turbulento, até por vezes insolente, é o bode expiatório da disfunção familiar.
Ao contrário do que os pais pensam (ou, por vezes, desejariam), as crianças saudáveis não são adultos em miniatura.
As crianças saudáveis, aquelas que dão trabalho, são acutilantes, curiosas, perguntam “porquê”, têm sede de saber, fome de mexer e não se contentam com o “porque não”. As crianças saudáveis sujam-se e esfolam os joelhos.
Numa altura em que não podem, lamentavelmente, entrar pela porta de casa como conquistadores do mundo do lado de fora e orgulhosos das proezas no exterior, sujos de terra e com os joelhos esfolados, é natural (e desejável) que desarrumem, desmanchem, sujem, façam e desfaçam.
Numa linguagem ultimamente costumeira, as crianças saudáveis têm bicho carpinteiro e tentarmos a todo o custo mantê-las quietas e caladas é criarmos as condições favoráveis à incubação deste bicho.
Crianças que não dão trabalho serão adultos infelizes.
E a confusão entre crianças irrequietas e crianças hiperativas é, também ela, uma epidemia.
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