Não pais, não tenho a receita para se resistir equilibradamente à quarentena.
Não sei quais são as doses precisas de calma quando a sala de estar foi convertida em escritório “open space” apoderado de “playground”. Não sei quais são as porções de serenidade devidas quando se medeiam conflitos fraternos e se intercalam birras dos mais novos, telescola dos mais crescidos com o parágrafo inacabado no ecrã do portátil.
Não sei qual a quantidade exata de resistência quando a plasticina cresce nos cantos do sofá e os bagos de arroz se estendem à colonização do chão.
Não tenho a receita.
Sei de cor que não é suposto pais e filhos estarem sete dias por semana 24 horas por dia debaixo do mesmo teto.
Sei, por instinto, que não é suposto pais desdobrarem-se em papéis como “quantos-queres” e que, por alguma razão, as creches, os jardins-de infância, as escolas têm professores, auxiliares, cozinheiras, empregadas de limpeza….
Sei, por experiência, que, às vezes, o equilíbrio é desequilibrado e que “do caos nasce a ordem”.
Não há mal nenhum em correr para o vão das escadas do prédio, já que (maldita a hora!) não há um terraço, às vezes nem uma varanda, dar um grito de libertação antes de voltar a entrar.
Não tenho a receita, mas, se pudesse, arranca ou escalpava essa culpabilidade que se agarra aos pais como escalpe, quando dizem para si mesmos que não estão a ser assim tão bons pais.
Não procurar a perfeição é o refogado inicial de uma dieta equilibrada.
E, pais, todos os dias têm dado provado que são melhores pais do que alguma vez pensaram ser. E tudo o olhómetro.